"A C H A N T A G E M "
Finalmente, alguém com o mínimo de palmo de testa! Não terá sido por acaso que anteriormente mencionei que a parada era alta e que as cartas estavam a ser muito bem jogadas...
A fábrica de Mangualde da Peugoet-Citroën está em risco de fechar depois de 2008.
André Macedo in diarioeconomico.sapo.pt de 29 de Dezembro
Estava ontem, anteontem e vai estar nas próximas semanas. O Diário Económico acompanha este processo há vários meses. Conhece bem os intervenientes. Sabe que há 1400 empregos directos em risco e outros cinco mil que dependem desta fábrica. Quando colocamos em manchete que a Peugeot-Citroën está a um passo de abandonar o país sabemos o efeito arrasador que a notícia produz junto destas pessoas e das empresas que dela dependem: é uma notícia absolutamente devastadora para a vida delas. É por isso que pesamos as palavras e verificamos as fontes com todo o rigor. Não há nenhuma urgência em dar esta informação. É preferível adiá-la ou não a publicar se não há a certeza absoluta de que é mesmo assim. Não foi o caso de Mangualde. Só avançámos depois de estarmos certos do que está mesmo a acontecer.
E o que está a acontecer não é agradável. Em traços largos, a Peugeot-Citroën quer um terreno para alargar a fábrica. Acontece que o terreno de oito hectares não é do Estado e os donos exigem 12 milhões de euros por ele. O grupo francês acha demasiado caro, quer dar menos dinheiro, e por isso decidiu jogar pesado: ou o problema se resolve ou os planos para Mangualde vão para o lixo. Dito assim, parece um problema de lana caprina. Um terreno de 12 milhões de euros está a pôr em risco 6300 postos de trabalho de uma fábrica que abriu em Portugal há 42 anos. Parece impossível que tanta história seja posta em causa por tão pouco. Parece – mas não é.
A concorrência brutal na indústria automóvel – o que aconteceu à GM-Azambuja é paradigmático – tem levado as marcas a adoptar todo o tipo de pressão na sua relação com os países onde operam, especialmente os que são mais vulneráveis, como Portugal. Para se instalarem, estas multinacionais exigem benefícios fiscais, terrenos, co-financiamentos, formação profissional, tudo o que conseguem lembrar-se para baixar os custos. Vale a pena sublinhar: é normal e legítimo que o façam. Compete-lhes encontrar – constantemente – as melhores soluções para aumentar o retorno dos seus accionistas, o resto é um problema político que os ultrapassa.
O problema é o constantemente. Sempre que podem, sempre que está em discussão um novo modelo ou um novo investimento, estes grupos industriais estendem a mão e pedem mais uma ajuda, mais um apoio, mais uma garantia. Sem nunca o assumirem, no ar fica sempre a hipótese de deslocalizarem a produção. É o que está a acontecer em Mangualde: depois de 2008 nada está garantido. Mas esta é só uma parte da verdade. A outra parte é que este carrossel de exigências se traduz um beco sem saída que converte o ministro da Economia em bombeiro desesperado e demagogo. Sempre que há um problema, lá vai Manuel Pinho a correr com a carteira na mão, bolsos cheios de promessas e intenções. Não é uma bonita figura.
Qual é a solução? Já foi dito: passa por tornar o regime fiscal mais transparente e competitivo. Acabavam-se os benefícios ad-hoc – às vezes sem sentido – negociados sobre pressão e definia-se uma ‘flat-tax’ ou uma taxa de IRC verdadeiramente competitiva, como na Irlanda. Um país periférico tem de jogar com inteligência para atrair grandes e muitas empresas. Ou isso ou vive sob chantagem permanente, como em Mangualde.
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